Vivemos uma necessidade premente de reduzirmos as emissões gasosas e ter uma efetiva descarbonização da nossa sociedade. Os combustíveis fósseis, que temos vindo a consumir de forma intensiva, ao longo dos últimos 100 anos, começam a ter consequências sérias e irreversíveis no equilíbrio ambiental do planeta. Alternativas aos combustíveis fosseis, hidrocarbonetos com elevado poder calorífico, não são fáceis de conseguir a preços competitivos. Porém, se queremos assegurar a sobrevivência das gerações futuras, a busca dessas alternativas não pode diminuir. Neste último ponto o Instituto tem vindo a desenvolver uma estratégia de trabalho muito consistente e, diria, assertiva, que nos permite ter hoje um conjunto de competências e infraestruturas instaladas para seremos um contributo positivo na procura de soluções para a nossa região e para o país.
O vetor energético que tem como base o hidrogénio é uma das áreas em que o Instituto tem vindo a trabalhar e a desenvolver um conjunto de projetos quer de formação quer de investigação. Este vetor é uma alternativa que pode ter uma contribuição significativa em todo o mix energético permitindo diferentes aplicações e vantagens quer ao nível do armazenamento de energia renovável e estabilizador da rede elétrica, quer a aplicações em mobilidade elétrica como combustível e a uma vasta gama de aplicações industriais. A cadeia de valor do hidrogénio vai desde as tecnologias de produção de hidrogénio renovável, com base em eletrolise da água ou tecnologias de gasificação de biomassa, passando pelo seu transporte e armazenamento, até a sua utilização.
A Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2) vem estabelecer a visão do país para o hidrogénio, identificando oportunidades e identificando todas as cadeias de valor, bem como as políticas e medidas de ação legislativa e operacional a implementar de modo que os objetivos sejam atingidos, nomeadamente, a obtenção em 2030 de 5% de hidrogénio no consumo final de energia, no transporte rodoviário e no sector industrial, 15% de injeção na rede de gás natural, 50 a 100 estações de abastecimento e 2 GW de capacidade instalada. São objetivos ambiciosos que têm complementarmente mecanismos de apoio e financiamento que serão disponibilizados e que permitirão apoiar a concretização da estratégia, passando pela implementação de novas unidades produtoras, novas infraestruturas de distribuição e novos equipamentos de utilização, nomeadamente, células de combustível. Neste contexto, uma das necessidades que estão identificadas na Estratégia para o Hidrogénio, EN-H2, documento que esteve recentemente em discussão pública, é “Formação de Recursos Humanos que irão operar soluções tecnológicas implementadas em projetos desenvolvidos”, facto que constitui uma oportunidade para o Instituto.
Efetivamente o Instituto, no âmbito do seu centro de investigação VALORIZA, tem vindo a desenvolver vários projetos de cariz muito prático e aplicados neste domínio, tendo sido clara a eleição deste vetor como estratégico para o país, situação que agora se afigura como efetiva. Entre os projetos destacam-se: Materiais funcionais para a produção eletrolítica de hidrogénio (FCT); H2SE – hidrogénio e Sustentabilidade Energética (Compete); Waste2H2 (H2020); AlTERCEXA (Interreg); Médio Tejo Hydrogen Region (FCH-JU), PigWasteBiorefinary (A2020).
Por outro lado, o Instituto foi das primeiras instituições a ter um mestrado nas áreas da energia e ambiente com unidades curriculares especificas para o hidrogénio, refira-se a unidade curricular de “Hidrogénio e Células de Combustível” no mestrado de Tecnologias de Valorização Ambiental e Produção de Energia. A par destas iniciativas, o IPP dispõe de equipamentos e unidades piloto, num laboratório experimental de demonstração de tecnologia, BioBIP-Energia para produção e utilização de hidrogénio, destacando-se: Eletrolisadores (PEM); Células de combustível (PEM, SOFC); Unidades piloto de gasificação térmica; Unidades piloto de processos biológicos; Unidade piloto de processos fotocatalíticos, bem como, capacidade analítica laboratorial. Dispomos, assim, de um conjunto de competências e condições experimentais nesta temática que lhe permite ambicionar a criação de uma academia de formação na área do hidrogénio que permita dar formação superior de qualidade e competência em todas as temáticas presentes na cadeia de valor do hidrogénio, formando recursos humanos com elevado grau de especialização, em cursos técnicos superiores profissionais (CTeSP), pós-graduações (PG) e Mestrados, com uma forte componente prática e aplicada. Acresce, ainda, a rede de parcerias nacionais e internacionais, com destaque para o Laboratório Colaborativo das BioRefinarias – BioREF, em que o Instituto é um dos polos, podendo disponibilizar competências ao projeto em análise.
Por fim, refira-se a manifestação de interesse que fizemos ao IPCEI-Hidrogénio (Important Project of Common European interest), que o governo português está a prepara para apresentar à EU, teve parecer favorável. Foram apresentados cerca de 70 manifestações de projetos, desde a produção, transporte e serviços, e tiveram parecer positivo para incorporação na candidatura que o estado português irá fazer, 37. Esta candidatura poderá permitir financiamento para a sua execução da academia, principalmente, na aquisição de equipamentos piloto para auxiliar os processos de formação.
Assim, estou seriamente convicto que estão criadas todas as condições para o que o nosso Instituto possa albergar uma Academia Para o Hidrogénio – A4H2, enquadrada na EN-H2 e no IPCEI-H2, no sentido de ser um polo dinamizador de formação de recursos humanos que irão operar processos e tecnologias do hidrogénio. Esta seria, a par com a BioBIP, do BioREF, o Laboratório Circular e o VALORIZA, mais uma infraestrutura de grande afirmação nacional e internacional do Instituto. O caminho é este.
Paulo Brito
Responsável pela BioBIP Energia